quinta-feira, 15 de março de 2012

A educação do futuro I


Pensar a educação que teremos daqui há dois, três, dez ou vinte anos é obrigação de qualquer educador. Por isso, utilizaremos este espaço nesta e nas próximas três edições para tratar de uma série de aspectos ligados ao ensino que deveremos prover para os próximos anos.

Algumas posturas serão polêmicas (porque tem que ser), mas com certeza, servirão para que cada gestor da educação repense seu papel diante dos alunos. Hoje trataremos de dois assuntos que estão na crista da onda de qualquer instituição de ensino: “aprendizado ao longo da vida” e “seleção do alunado”.

O lifelong learning – ou aprendizado ao longo da vida – remonta a uma ideia que muitas vezes faz sentido apenas na teoria. Já ouvi vários professores criticarem essa forma de ensino, como sendo utópica e exagerada.

Deixando os preconceitos de lado, o que esse conceito deve nortear é o fato de que a preocupação do educador deve ser com o ensinar a pensar e não com a mera transmissão de conhecimentos e habilidades práticas do cotidiano – e isso vale para os mais empíricos dos cursos, como as engenharias, técnicos em diversas áreas e especializações afins.

A estagnação dos saberes deixa o Brasil sem saber o que fazer com tanto progresso. Temos matéria-prima, temos postos de trabalho, mas não somos detentores ainda do principal: o conhecimento. Temos formado muitos instrumentalistas e poucos pensadores; sujeitos que sabem por que a maçã caiu na cabeça de Newton, mas não fazem a menor ideia do que vai acontecer com as coisas que vão cair na cabeça dele.

Este assunto remete também a estrutura do aprendizado. O formato de cursos de quatro a cinco anos e basicamente em salas de aula – que foi difundido pelas universidades públicas mais antigas – deve mudar ao longo do tempo. Períodos menores, ensino mais eficiente e mais concentrado, com uma grade multidisciplinar que forme o aluno para a vida em família, em sociedade e na profissão. Estamos obrigatoriamente cada vez mais perto desse sonho.

Outro aspecto importante que nunca deve ser esquecido é a garantia do aprendizado. Um exemplo atual é o da Universidade do Sul da Flórida que garante aos alunos de engenharia que se não conseguirem emprego, eles podem voltar à faculdade e adquirem competências que não conseguiram durante o curso. Na prática, se o egresso sente que faltou matemática na vida dele, gratuitamente ele pode apreendê-la a qualquer tempo e de graça.

Com o passar dos anos, com certeza, a maior ação de marketing das instituições de ensino serão os próprios alunos brilhantes. Nada de atores famosos e prodigiosos que sequer têm curso superior estampando os cartazes, mas sim, aqueles que tiveram conquistas objetivas, como sua ascensão em programas de Mestrado, Doutorado ou com empregos que saltam às vistas.

Os dois aspectos elencados hoje remontam ainda a ideia quase natural de que as faculdades precisam viver o mundo “real”. Por muitos anos, e sobretudo as instituições públicas e as privadas mais tradicionalistas, viveram uma epopéia de que eram intocáveis. Balela!

A educação precisa ser construída de forma a fomentar o crescimento individual na coletividade, gerando ações e expectativas que causem nos alunos uma função social, pragmática e devastadora no sentido de uma mudança de perspectivas.


Artigo originalmente publicado no jornal Folha da Manhã, em Passos (MG)

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