domingo, 9 de fevereiro de 2014

O apego em nossas vidas

Outro dia, por acaso, assistindo a um desses programas dominicais de televisão, ouvi uma celebridade dizer um lugar-comum, muito comum: “eu pratico o desapego”. Ela explicava que mesmo sendo famosa e bem-sucedida, que não tinha nenhum apego as coisas materiais, e que não se importaria se um dia perdesse tudo aquilo de material que tem. Disse ela ainda: “tirando meus filhos, eu posso perder tudo, que não tenho nenhum tipo de apego. Eu pratico o desapego”. Confesso que apesar de estar num momento de total desconcentração com coisas um tanto mais reflexivas, o comentário daquela beldade chamou minha atenção. Afinal de contas, o que é praticar o desapego? É possível existir cotidianamente alguma prática que remeta a uma real ausência do sentimento de pertença que nós temos pelas coisas materiais e imateriais? Um turbilhão de questões começaram a atingir minha consciência, e acabaram levando-me a descobrir algumas coisas. Existe uma Teoria do Apego. Isso mesmo. Ela explica, entre outras coisas, a necessidade humana de se referenciar no outro. Apesar de ser mais comumente aplicada a recém-nascidos, na década de 80, os estudiosos Cindy Hazan e Phillio Shaver estenderam esta epistemologia aos relacionamentos românticos adultos, dividindo inclusive em quatro estilos identificados, sendo: (a) Seguro; (b) Preocupado-ansioso; (c) Desapegado-evitativo; (d) Assustado-evitativo. Na verdade, mais do que a psicologia da área pode descrever e até classificar, o apego, com certeza é um dos sentimentos mais complexos do ser humano. Há pessoas que têm apego até com a cama em que dormem. “Ah, só durmo na minha cama”, dizia sempre uma velha conhecida. “Só viajo se for em meu carro”; “Só como na minha casa”; “Só vivo enquanto ele [o marido] vida tiver”. Estas assertivas são comuns na vida de muitos, talvez na sua, e refletem o quanto somos apegados com o material ou com o imaterial. A budista tibetana Jetsunma Tenzin Palmo prega que o apego é exatamente o oposto do amor. Para ela, enquanto o amor diz: “quero que sejas feliz”. O apego comenta: “quero que me faças feliz”. E é verdade. Apego demais não faz bem a ninguém. Precisamos aprender que somos meros passageiros nessa curta viagem e que, do que fazemos aqui, só restará o bem que fizermos. Ou alguém aí já viu carro-forte fazendo entrega em velório? E já que o assunto da semana é o apego, a demonstração da professora e diretora da PUC-Rio Rosa Marina Meyer foi de envergonhar a classe profissional. Pra quem não viu o assunto, ela criticou o fato de um homem estar de bermuda, camiseta cavada e tênis no aeroporto, questionando se era um aeroporto ou rodoviária, claro, ironizando. Ora professora Meyer, não importa o que era, o que importa é que seu apego as coisas materiais faz de você uma pessoa que precisa evoluir, apesar dos diplomas. Você não me representa! Por hoje é isso. Cuide-se bem! FIRMINO JÚNIOR é professor na PUC Minas e no Instituto Federal, também jornalista e escritor, tem mestrado na área de Comunicação. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br.

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