domingo, 3 de junho de 2012
O problema do ensino médio
A educação brasileira tem problemas em todos os níveis, da creche até o pós-doutoramento. Entretanto, é no ensino médio (1º ano ao 3º ano), que as estatísticas deprimem até os mais arraigados otimistas, como eu.
Segundo o próprio Ministério da Educação (MEC), nesta fase, apenas 11% dos estudantes aprendem o que deveriam em Matemática. A idade também interfere, já que, segundo dados do Movimento Todos pela Educação coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só metade dos jovens brasileiros conclui essa etapa do ensino na idade esperada (até os 19 anos).
Outro dia, quando concedi uma entrevista ao programa de Chiquinho Negrão, na TV Independência, onde o tema era educação, ele questionou sobre a situação do aluno do ensino médio. Um ser humano numa idade complicada, passando por transformações identitárias e hormonais a cada segundo. Confesso que não me lembro completamente da resposta, mas com certeza, foi confusa.
Na escrita, onde tenho um pouco mais de intimidade, acho que posso culpar tranquilamente a falta de identidade do ensino médio. Sim! O ensino médio brasileiro não sabe o que quer do seu aluno e, por isso, causa danos irreversíveis e estatísticas que fazem Dilma, Mercadante e todos mais sentarem na calçada e chorarem.
Primeiro, porque o aluno é emparedado a uma avalanche de conteúdos, muitos de serventia duvidosa para qualquer coisa. Segundo, porque nem o governo, nem as escolas, nem os gestores, conseguem identificar se o alunado deve ser preparado para o vestibular ou para o mercado de trabalho.
Como muitos não têm condições de pagar uma universidade particular ou custear as despesas oriundas do ensino público – sim, elas existem e são grandes – vários adolescentes abandonam a escola para reforçar a renda mensal familiar. Resultado: não estudam mais e não têm uma profissão especialista, ou seja, invariavelmente, esse ser humano vai ter que passar bons anos aprendendo a murro algum ofício.
Não há um ranking sequer no Brasil que assinale para um fator positivo do Ensino Médio. O próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revela o fracasso que é esta fase na rede pública e, em alguns casos, até na privada. Em 2010, nenhuma escola estadual ou municipal apareceu entre as 100 primeiras com as melhores notas. As 13 escolas públicas que aparecem no universo das 100 melhores são colégios de aplicação de universidades, militares, escolas federais e técnicas.
Para tentar atenuar esse quadro de pouco caso com a educação, o MEC reforça agora o Programa Ensino Médio Inovador – criado em 2009 – e que, grosso modo, reformula o ensino médio. Como otimista que sou, já disse, vamos ver se o programa agora deslancha e consegue desatar o grande nó da educação pública do país: o ensino médio.
Mas não se pode esquecer que o ensino médio é só o gargalo. O ‘pula lá que vai’ do ensino fundamental é a causa-raiz desse problema e também deve ser tratado. De pronto, posso afirmar que o Promei não pensou nisso, mesmo assim, rezemos pra que dê certo.
Artigo publicado originalmente no jornal Folha da Manhã, em 02/06/2012
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